sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Contingência

Descobri recentemente que ainda sou uma pessoa extremamente preocupada com julgamentos e triste. Reprogramação mental torna-se praticamente impossível com o passar do tempo e acabamos por mudar de estratégia - aceitar quem somos, entender quem nos tornamos, ponderarndo e decidindo da melhor forma possível sobre os eventos que nos incorrer, ocorrem e recorrem. Talvez devesse me submeter à Pavlov para que ao menos consiga produzir algo em meio à esta bagunça mental, talvez devesse simplesmente ignorar tudo o que julguei distorcidamente importante, talvez devesse ser mais máquina e menos pessoa. Sofreria igual, mas em formas diferentes, talvez em formas mais suportáveis, mais compatǘieis com minha interpretação de mundo.

Fruta que tardiamente se jogou da árvore, desmancha mais quando ao chão. Às vezes arrependimento te mata à prazo, não à vista. Se para alguns fatores me demorei, em outros acelerei e acelerei em lógica falha, guiada pelo medo. O medo que tantas vezes vi como antagônico ao amor. Amor é força, é movimento, é motriz, julgamos erroneamente o ódio como inverso, quando ele também é energia, mas errática, destrutiva, fria. O medo não, não não não não não, ele é o não em tudo, ele é paralisia, vazio, desistência, freio. Lidar com o grande medo persistente que carrego é uma tarefa dificil, falar sobre, mais ainda. Medo é a gasolina de foguete da ansiedade, ânsia, o imaginário grita, o real responde, a cabeça chora, o corpo sente. As coisas não perdem o sentido, não perder a clareza, mas perdem a gravidade, nada mais atrai, nada mais te puxa. Sabemos exatamente onde queremos chegar e o que devemos fazer, mas simplesmente não, não não não não não... não vai... vazio mental, ausência de conciência mais do que indiferença...

Hoje percebo que escolhi sofrer por antecipação para não sofrer mais tarde, sofrer perdas enquanto ainda tenho saúde para aguentar, perder pessoas enquanto vivas, antes que eu as perca levadas pelo tempo, pois vejo minha trajetória e começo a me questionar por quanto tempo ainda conseguirei pensar em linhas, sofrer agora traz-me uma chance maior de sobrevivencia do que sofrer mais à frente.

"Sonhar não custa nada" foi uma das maiores mentiras que já ouvi. O custo do sonho é pior que qualquer assinatura de TV a cabo que você possa imaginar... Roubaram minhas vestes antes que eu soubesse pra que serviam...

Objetivo ainda tenho, meu lado lógico ainda deseja deixar um saldo nesta pedra dura. Que ninguém caia na armadilha que construi e me joguei e que eu dure tempo suficiente para deixar algo de bom por aqui, para que ao menos um gosto de vitória sólida permaneça em mim em meio à minha história que se evapora...

Se você sobreviveu ao meu texto até agora, obrigado pela paciência e desculpe a concatenação de mal gosto. É o marco de meu retorno à escrita, meu verbômito, pessoal, escarro de meu momento. Permita-me leitor ter uma breve história no tempo onde possa enganar o medo enquanto ele não olha, enquanto a tristeza dorme.